
Uma classe média “absolutamente achatada” e forte demanda por imóveis com mais conforto e qualidade, são algumas das mudanças recentes no mercado imobiliário brasileiro, na visão de Leandro Melnick, CEO da construtora gaúcha Melnick, em entrevista ao jornal O Globo.
A empresa atua há 55 anos no segmento médio e alto padrão no Sul e São Paulo, e passará por reestruturação em 2026, acompanhando as mudanças neste mercado. Entre elas está o perfil do jovem comprador de imóvel.
“Hoje eles [os jovens] não não pensam em (primeiro) comprar e mobiliar um apartamento (para só então sair de casa). Agora a ideia é ser independente e sair de casa mais rápido. Ir para um apartamento pequeno, num prédio com serviço”, aponta Melnik.
Segundo o executivo, entre a necessidade de independência e a falta de tempo para acumular capital, os jovens vão preferir os apartamentos com áreas comuns maiores. “O prédio substitui o clube e virou comunidade”, reforça o executivo.
De olho em tendências como essa, a construtora se dividirá em quatro unidades especializadas: incorporação, urbanização, consultoria e projetos, além da Open Construtora para o segmento econômico.
Segmento econômico ganha força
Leandro Melnick destaca o potencial do mercado econômico no cenário atual, em que produtos são subsidiados. “Neste momento, estou vendo o econômico com maior potencial, sem dúvida”, afirma.
O executivo atribui o crescimento à ampliação do Minha Casa, Minha Vida e ao “achatamento da classe média”. Por outro lado, o CEO observa evolução no segmento popular.
“Antes, todo o foco era diminuir o custo. Torres baixas, sem elevador, o menor número de tomadas”, explica. Hoje, projetos incluem closets e dois banheiros para apartamentos de dois dormitórios. Ou seja, é preciso criar mais conforto e design.
Plantas se adaptam aos novos modelos familiares
“Tradicionalmente, todo imóvel de alto padrão tinha cozinha fechada e ampla, além de um quarto de empregada. Isso fazia parte do pacote”, explica Melnick, afirmando que isso ficou para trás.
Assim como já acontece nos Estados Unidos — onde a própria família cozinha, e a cozinha é integrada à sala — em São Paulo, as construções caminham para esta.
“Temos desenvolvido vários projetos assim. Há uma integração maior entre áreas de serviço e social, acompanhando famílias que têm menos empregados domésticos. Ninguém tem dúvida de que a próxima geração não terá mais um empregado que durma em casa”, reforça o executivo.
Alto padrão busca bem-estar
No segmento de luxo, Melnick também identifica uma nova tendência: “Ter tempo é o novo luxo. Qualidade de vida, longevidade”, afirma.
Segundo ele, o bem-estar está à frente da ostentação. “É uma tendência incremental. A Ferrari vermelha não é mais a ostentação. Já foi. Teve um momento em que a ostentação era mostrar que se tinha mais que o outro. Aquela arquitetura dos edifícios espelhados, envidraçados, conversava com a lógica da ostentação”, explica.
De acordo com o executivo, a tendência atual é a arquitetura verde, com uso de aço e concreto, linhas minimalistas e elementos naturais, seguindo a ideia de proporcionar mais tranquilidade ao ambiente.
Melnick vê risco de “superoferta” no mercado premium, tamanho movimento favorável da alta renda no setor imobiliário.
*Com informações de O Globo

