imóvel adaptado

Imagine morar por anos em um imóvel e, de repente, sentir medo de transitar pelo próprio lar. Foi o que aconteceu com um paciente idoso da fisioterapeuta Isabela Azevedo Trindade. “Ele ficou com medo de usar o banheiro sozinho após algumas quedas”, relata Isabela, que é presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Felizmente, esse quadro pôde ser revertido sem grandes intervenções. “Foi uma mudança simples, mas que mudou muito a vida desse paciente. Após instalar uma barra de apoio, piso antiderrapante e uma cadeira de banho, ele recuperou a confiança e voltou a realizar suas atividades de higiene com independência. Isso refletiu diretamente no bem-estar emocional”, conta.

Alterações como essas fazem parte de um conjunto de soluções destinadas a criar imóveis que oferecem uma maior acessibilidade, tanto para idosos quanto para pessoas com deficiência. São os chamados imóveis adaptados, que têm sido cada vez mais buscados no Brasil, sobretudo, em face do envelhecimento populacional acelerado e do aumento da expectativa de vida.

Para facilitar a leitura, organizamos as principais informações sobre imóveis adaptados em tópicos. Ao longo do artigo, você vai encontrar:

  • Quais são as principais características de um imóvel adaptado?
  • O que diz a lei sobre imóveis adaptados?
  • O que é Design Universal?
  • Quais os pontos mais críticos para adaptar um imóvel?
  • Como a tecnologia ajuda a adaptar um imóvel?
  • Como escolher um imóvel adaptado com segurança?
  • Um imóvel adaptado é rentável?
  • Perguntas frequentes (FAQ)

Quais são as principais características de um imóvel adaptado?

Um imóvel adaptado é aquele que oferece segurança, acessibilidade e autonomia para seus residentes. Em geral, são voltados a idosos e pessoas com deficiência.

Os principais pontos que compõem um imóvel adaptado são descritos na norma NBR 9050, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Dentre os principais pontos, estão:

Layout: piso sem desníveis, corredores com no mínimo de 90 cm, e portas com pelo menos 80 cm de largura.

Espaço de manobra para cadeiras de rodas: ainda no layout, os diferentes espaços devem permitir, por exemplo, que uma pessoa com cadeira de rodas dê um giro de 90º, 180°ou 360° a depender do ambiente. Para um giro de 90º, considera-se necessário um espaço quadrado de 1,20m. Já para um giro de 360º, é preciso levar em conta um círculo de 1,5m de diâmetro.

Pisos: devem ser sempre nivelados e de superfície antiderrapante; tapetes soltos também devem ser evitados.

Iluminação: o imóvel deve ter uma boa distribuição de luz natural e, se possível, ter sensores de presença ou ativação por voz em corredores e banheiros que permitam com que a luz seja ativada à distância. Esse tipo de adaptação traz mais segurança, sobretudo à noite.

Banheiros: devem conter barras de apoio, box sem degrau, piso antiderrapante, chuveiro regulável, e ter um tamanho suficiente para que uma pessoa com cadeira de rodas ou andador se movimente e acesse todos os espaços (vaso sanitário, box, pia etc).

Cozinha: devem ter bancadas em altura acessível (80 a 85 cm), armários baixos, e uma boa área de circulação livre.

Quartos: devem oferecer proximidade do banheiro, espaço para cama articulada, tomadas em altura acessível.

Áreas comuns do condomínio: para os que moram em edifícios, o condomínio deve ter rampas de acesso, elevadores que comportem uma pessoa com cadeira de rodas, e corrimãos em escadas e halls.

O que diz a lei sobre imóveis adaptados?

Pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), todos os condomínios devem seguir preceitos de acessibilidade em suas áreas comuns.

Em 2018, essa legislação foi regulamentada pelo Decreto nº 9.451/2018, que estabeleceu que construtoras e incorporadoras devem entregar unidades que sejam adaptáveis, ou seja, que comportem a realização das adaptações necessárias sem alteração estrutural.

Além disso, o decreto também estabeleceu que o comprador de um imóvel pode solicitar que sua unidade seja entregue segundo os padrões de acessibilidade sem nenhum custo adicional, desde que o solicite por escrito até o início da obra à construtora ou incorporadora.

O que é Design Universal?

“Um imóvel não precisa ser necessariamente adaptado. A melhor característica de um imóvel é que ele tenha desenho universal, ou seja: que seja adequado a qualquer usuário, independentemente de suas características físicas, etária ou sensoriais”, explica Silvana Cambiaghi, arquiteta e presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) da prefeitura de São Paulo.

O Desenho Universal citado por Cambiaghi é um conceito popularizado pelo arquiteto norte-americano Ronald Mace na década de 80. Ele tem como base a ideia de que um ambiente não deve ser adaptado, e sim idealizado desde o princípio para permitir o acesso e uso igualitário por todas as pessoas.

Cambiaghi, que é mestre em Desenho Universal, lista algumas das características de um imóvel que segue o conceito:

“O imóvel deve prever, prioritariamente: portas com larguras de 80cm no mínimo, largura de corredores com no mínimo 90cm, ambientes que permitam o giro para uma pessoa entrar de frente e sair de frente, e [o espaço necessário] para a aproximação de um módulo de referência (um retângulo de 1,20m x 0,80m). Este módulo de referência significa o espaço que uma pessoa em cadeira de rodas projeta no piso, [e deve ser levado em conta] para aproximação de camas, mesa de trabalho ou alimentação, pia de cozinha e dos equipamentos do banheiro”.

Quais os pontos mais críticos para adaptar um imóvel?

Com relação aos idosos, a maior preocupação no ambiente doméstico são sempre as quedas, como explica a fisioterapeuta Isabela Azevedo Trindade, da SBGG. “Elas podem ser escorregões em banheiros, tropeços em tapetes, enfim, acidentes na cozinha. Um imóvel adaptado ajuda a prevenir esses riscos com soluções como piso antiderrapante, barra de apoio, boa iluminação, eliminação de degraus e organização de espaço para evitar obstáculos”.

O banheiro, portanto, torna-se o ambiente mais preocupante em termos de segurança, devido à combinação de umidade, presença de água e uso frequente.

“Além disso, quartos e corredores precisam estar bem iluminados e livres de obstáculos, já que são áreas de circulação diária onde o idoso tende a passar grande parte do dia”, recomenda Trindade.

No entanto, para quem pretende adquirir um imóvel pensando em adaptá-lo, é importante notar que algumas características estruturais podem dificultar ou até impedir as alterações necessárias. “Edifícios em alvenaria estrutural, na sua maioria, não podem ter alterações em seus ambientes, como o aumento do vão de portas, por exemplo”, explica a arquiteta Cambiaghi. “E, mesmo em edifícios que não sejam de alvenaria estrutural, muitas vezes é difícil aumentar a área dos banheiros, especialmente se eles abrirem para corredores. Por esse motivo vale a pena verificar a viabilidade de se adaptar a edificação antes de comprá-la.”

Como a tecnologia ajuda a adaptar um imóvel?

Isabela Azevedo Trindade, presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG, lista como exemplos de soluções tecnológicas que auxiliam idosos:

  • Lâmpadas inteligentes que acendem por voz ou sensor de movimento evitando quedas à noite;
  • Fechaduras digitais que dispensam chaves, e facilitam o uso para aqueles que tenham artrose;
  • Sensores de presença que detectam quedas ou longo período sem movimento enviando alertas para familiares;
  • Assistentes virtuais que lembram horários de medicamentos ou consultas.

Como escolher um imóvel adaptado com segurança?

“Recomendo observar a acessibilidade desde a entrada. Se há elevador, poucos degraus, corredores largos, banheiros que comportam adaptação”, orienta a fisioterapeuta da SBGG Isabela Azevedo Trindade. “Também vale prestar atenção à ventilação e à proximidade de serviços de saúde, comércio, que facilitam a rotina e promovem a autonomia do idoso”.

Já a arquiteta Silvana Cambiaghi ressalta a importância de observar a incidência de luz no imóvel. “Os ambientes também devem ter boa iluminação natural e adequada para o período noturno, para não haver sombras e pontos escuros”, diz.

Dessa forma, para escolher um imóvel adaptado ou adaptável, observe:

  • No caso de edifícios, se ele conta com soluções de acessibilidade como: elevadores que comportem uma pessoa com cadeira de rodas; rampas de acesso; e a presença de geradores para casos de falta de energia;
  • No imóvel em si, verifique se as portas têm, pelo menos, 80 cm de largura;
  • Verifique se os corredores têm largura mínima de 90cm;
  • Verifique se os revestimentos do banheiro são escorregadios;
  • Verifique se há possibilidade de ampliação de o banheiro;
  • Verifique se há possibilidade de instalação de barras de apoio no banheiro;
  • Verifique as alturas dos armários e bancadas na cozinha, para garantir que uma pessoa em cadeira de rodas conseguiria alcançá-los;
  • Verifique se o imóvel é bem iluminado;
  • Caso o imóvel não tenha essas características estruturais, evite edifícios com estrutura em alvenaria já que, muitas vezes, essas construções dificultam alterações na planta do apartamento.

Um imóvel adaptado é rentável?

Além da preocupação com o bem-estar e com o envelhecimento saudável, já existem evidências de que a acessibilidade de um imóvel é um fator de valorização que tende a crescer.

Segundo o IBGE, a população brasileira com 65 anos ou mais cresceu mais de 57% em 12 anos, e a tendência é que, até 2070, a faixa etária acima dos 60 anos represente quase 40% da população.

Em 2023, a Brain Inteligência Estratégica e a Caio Calfat Real Estate Consulting realizaram um estudo sobre residências voltadas à terceira idade no país. A pesquisa, que entrevistou 453 pessoas em quatro diferentes cidades brasileiras, concluiu que 33% dos entrevistados estariam dispostos a se mudar para outro imóvel que fosse mais adaptado ao envelhecimento.

Além disso, alguns bancos — como Banco do Brasil e Bradesco — oferecem linhas de crédito especiais para reformas visando a acessibilidade, o que pode facilitar o investimento na adaptação de um imóvel.

Perguntas frequentes (FAQ)

Posso adaptar qualquer imóvel ou é melhor comprar um já pronto?
Algumas adaptações simples como instalação de barras de apoio podem ser feitas na grande maioria dos imóveis. Porém, caso um imóvel exija alterações maiores em sua estrutura (para ampliação de portas ou corredores, por exemplo), é importante verificar a viabilidade dessas alterações antes de comprar. Alguns edifícios, como os de alvenaria estrutural, podem não comportar essas alterações.

Existe financiamento ou linha de crédito para adaptação?
Sim, alguns bancos (incluindo Banco do Brasil e Bradesco) oferecem linhas específicas para reformas de acessibilidade.

Qual o custo médio para adaptar um imóvel?
Varia conforme a intervenção: barras de apoio podem custar menos de R$ 100, mas um banheiro completamente adaptado exige um orçamento mais detalhado, já que envolve a realização de uma obra.

Jornalista Luiza Queiroz
Luiza Queiroz

Luiza Queiroz é jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com especialização em jornalismo de dados pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Acumula experiência em grandes veículos da imprensa nacional, como Veja, O Estado de S. Paulo e Casa Vogue, onde desenvolveu reportagens e conteúdos digitais sobre mercado imobiliário, arquitetura e decoração. Desde 2021, atua na equipe de checagem de fatos da Agence France-Presse (AFP), em São Paulo. Colabora com o Portas como jornalista autônoma, contribuindo com reportagens e análises sobre o setor imobiliário.

Luiza Queiroz é jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com especialização em jornalismo de dados pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Acumula experiência em grandes veículos da imprensa nacional, como Veja, O Estado de S. Paulo e Casa Vogue, onde desenvolveu reportagens e conteúdos digitais sobre mercado imobiliário, arquitetura e decoração. Desde 2021, atua na equipe de checagem de fatos da Agence France-Presse (AFP), em São Paulo. Colabora com o Portas como jornalista autônoma, contribuindo com reportagens e análises sobre o setor imobiliário.