
A profissão de corretor de imóveis mostrou um salto de qualificação nos últimos 25 anos, período em que passou de 14% para 62% a fatia de trabalhadores com diploma universitário, segundo o presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci), João Teodoro. Além disso, Teodoro afirmou que estimativas recentes apontam que o dado mais conhecido sobre a quantidade de profissionais no Brasil, de 650 mil pessoas, já cresceu e está em torno de 730 mil.
“Nossa preocupação é não só ter volume de profissionais, mas também qualificação. Se o corretor não tiver capacidade de atender as demandas que a sociedade nos impõe, os segmentos de incorporação e construção não andam”, afirmou Teodoro durante o Conecta Imobi, evento do grupo OLX realizado em São Paulo.
Ele destacou que é essencial a constante atualização, incluindo conhecimento em Inteligência Artificial. Para Teodoro, não há oposição entre as inovações e as possibilidades no mercado de trabalho dos corretores. “A boa notícia é que todo mundo precisa morar, sempre trabalhamos com a segurança de que, apesar de todas as modificações trazidas pela tecnologia, haverá espaço para os corretores”, afirmou.
A mesma visão é compartilhada por Coriolano Lacerda, head de inteligência imobiliária do grupo OLX. “A IA vai processar volume de dados, fazer tarefas repetitivas, sugerir padrões de consumo e pode criar algumas automações”, afirmou.
Lacerda ressaltou que a tomada de decisão e a ação a ser realizada ainda ficam com os seres humanos. “A IA não tem olhar crítico e não sabe falar não. O grande estrategista daquela operação ainda vai ser o profissional imobiliário”, concluiu.
Uso de inteligência imobiliária
Segundo Lacerda, o mercado imobiliário vive um contraste entre falta de dados públicos e confiáveis de fontes externas e, ao mesmo tempo, excesso de informações internas, com baixa taxa de contextualização. “Temos uma certa miopia estratégica e vemos o mercado de forma embaçada. Ter dado não significa ter conhecimento”, afirmou.
Veja o passo a passo indicado por Lacerda para profissionais utilizarem inteligência imobiliária:
- Curto prazo: crie campanhas e anúncios bem posicionados
- Média prazo: identifique os indicadores mais adequados para a estratégia (quantidade de leads, de vendas ou de visualizações de um anúncio, por exemplo)
- Longo prazo: aplicar essa estratégia de modo consistente para que todos os times, e não só os profissionais de dados, atuem dentro da empresa com base em informações
O head da OLX deu dicas para ajudar a “prever o futuro” e acertar qual imóvel tem mais chance de ser vendido ou alugado. Em primeiro lugar, ele indica o uso de dados históricos para as análises. “Não adianta só um ou dois anos de informação. Quanto mais longo for o período das análises, melhor será o planejamento”, destacou.
O segundo passo, ele indica, é entender melhor o comportamento dos clientes. “Na última crise, de 2014/2015, a taxa Selic [referência para os juros do financiamento] estava em um patamar parecido ao atual, de 15% ao ano, e o mercado imobiliário desabou, algo que não está acontecendo agora”, disse.
Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) indicam que as operações de crédito imobiliário realizadas por meio das Cadernetas de Poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) cresceram quase 25% em 2024, para R$ 312,4 bilhões.
Um dos motivos para esse momento aquecido do mercado imobiliário, apesar do custo alto de financiamento, seria a mudança de comportamento após a pandemia. “Depois da pandemia, as pessoas passaram a ver o imóvel não só para viver, mas também para estar. Um efeito disso foi o aumento, em novos empreendimentos, do tamanho dos quartos, por exemplo, que muitas vezes servem de home office”, disse.