Imagem: Andrii Yalanskyi/iStock
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O novo modelo de crédito imobiliário, anunciado pelo governo federal no dia de 10 de outubro, deve ampliar o acesso da classe média ao financiamento da casa própria e impulsionar o setor da construção civil. As medidas fazem parte da modernização do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e atualizam o limite do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) para R$ 2,25 milhões, valor 50% superior ao teto anterior de R$ 1,5 milhão.

Com a mudança, imóveis de padrão mais alto — especialmente em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis, onde o tíquete médio subiu nos últimos anos — poderão ser financiados com juros limitados a 12% ao ano, dentro das condições mais vantajosas do SFH. A expectativa é que famílias com renda mensal na casa dos R$ 12 mil passem a ser contempladas.

Além da ampliação do teto, o governo anunciou ajustes nas regras do FGTS e a criação de uma nova linha de crédito para reformas residenciais, destinada a famílias de baixa renda. O conjunto das medidas tem potencial de liberar até R$ 52 bilhões adicionais em crédito habitacional no primeiro ano de vigência, segundo estimativas do Banco Central.

Novo teto do SFH: até R$ 2,25 milhões para financiamento

Com o novo limite, o financiamento de imóveis de até R$ 2,25 milhões passa a ser possível dentro do Sistema Financeiro da Habitação, que oferece juros mais baixos e prazos mais longos. Antes, o teto era de R$ 1,5 milhão. O objetivo é acompanhar a valorização dos imóveis e ampliar o alcance do crédito para famílias que estavam fora das faixas do programa Minha Casa, Minha Vida.

A Caixa Econômica Federal calcula que poderá viabilizar cerca de 80 mil novos financiamentos com taxas mais vantajosas. A ampliação também deve estimular o mercado secundário de crédito e favorecer bancos privados, que terão maior liberdade para ofertar novas linhas dentro das regras do SFH.

Taxa de juros e entrada mínima

As novas regras não reduzem imediatamente os juros do crédito imobiliário, mas trazem mais previsibilidade. Dentro do SFH, os financiamentos seguirão limitados a 12% ao ano. A novidade está na proporção do valor financiado: a Caixa elevará de 70% para 80% o percentual máximo do bem que pode ser financiado, reduzindo o valor da entrada para o comprador (medida válida para o SBPE).

Com mais liquidez no sistema e maior concorrência entre bancos, a tendência é que novas linhas de crédito surjam ao longo de 2025, com prazos mais longos e condições mais acessíveis para famílias de classe média.

O que muda no Sistema Financeiro da Habitação (SFH)

O redesenho do crédito imobiliário tem como base a reformulação da caderneta de poupança, principal fonte de recursos do SFH. Hoje, 65% dos depósitos da poupança precisam, obrigatoriamente, ser aplicados em crédito imobiliário; 20% são recolhidos pelo Banco Central como depósito compulsório; e 15% têm livre aplicação pelos bancos.

Com o novo modelo, essas travas serão flexibilizadas. O total de recursos da poupança passará a servir como referência para o volume de crédito habitacional disponível, incluindo tanto o SFH (Sistema Financeiro da Habitação) quanto o SFI (Sistema de Financiamento Imobiliário).

Na prática, quanto mais dinheiro os brasileiros depositarem na poupança, maior será o montante liberado para financiamentos imobiliários. A mudança também deve aumentar a competitividade entre bancos, permitindo que instituições que não captam diretamente via poupança possam conceder crédito em condições similares.

Como funcionará o novo modelo de crédito imobiliário

Em um exemplo prático divulgado pelo governo, se uma instituição captar R$ 1 milhão no mercado e aplicar integralmente esse valor em financiamentos imobiliários, ela poderá usar a mesma quantia captada na poupança — com custo mais baixo — para aplicações livres por um período determinado.

Mas, para isso, 80% das operações de crédito deverão ser realizadas sob as regras do SFH, que limitam os juros a 12% ao ano. Segundo o Banco Central, o novo arranjo pode liberar R$ 52,4 bilhões adicionais no primeiro ano, sendo R$ 36,9 bilhões de forma imediata.

Quando as novas regras entram em vigor

As mudanças não são imediatas. O governo prevê uma transição gradual até janeiro de 2027, quando o novo modelo passará a funcionar plenamente. Durante esse período, os depósitos compulsórios no Banco Central serão reduzidos progressivamente, abrindo espaço para mais liquidez no mercado imobiliário.

Na prática, os bancos terão mais recursos para oferecer crédito habitacional, o que tende a se traduzir em prazos mais longos e condições mais competitivas.

Impactos esperados no curto e médio prazo

De acordo com especialistas, as mudanças não devem gerar uma queda imediata das taxas de juros, mas devem tornar o crédito mais acessível e previsível. Para Daniel Claudino, analista do mercado imobiliário, os primeiros sinais devem aparecer nos próximos meses:

“Os efeitos iniciais tendem a ser mais aprovações de crédito, prazos mais longos e reabertura das caixas de financiamento. À medida que as novas regras forem detalhadas e o mercado se ajustar, o sistema ganhará escala. Se a Selic cair adiante, o crédito já estará pronto para repassar condições melhores ao consumidor”, avalia Claudino.

FGTS 2025: novas regras do saque-aniversário e impacto na habitação

As mudanças no saque-aniversário do FGTS, que entram em vigor em 1º de novembro, também devem fortalecer o crédito imobiliário. O valor mínimo para antecipação passará a ser de R$ 100, e o máximo, de R$ 500 por saque. O trabalhador poderá antecipar até cinco parcelas em um período de 12 meses, totalizando R$ 2.500.

Com isso, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estima que R$ 84,6 bilhões deixarão de ser capturados pelos bancos até 2030 e retornarão diretamente aos trabalhadores — reduzindo o volume de recursos que saem do sistema.

Como o FGTS é uma das principais fontes de financiamento da habitação popular, manter mais dinheiro no fundo aumenta o lastro para o setor imobiliário e reforça o SFH. Na avaliação do governo, o saque-aniversário vinha enfraquecendo o fundo como poupança do trabalhador e como instrumento de investimento em moradia e infraestrutura.

Nova linha de crédito para reformas residenciais

Além das mudanças no crédito habitacional, o governo lançou uma nova linha de crédito para reformas dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, no âmbito do Novo PAC. A medida, publicada em edição extra do Diário Oficial da União em 9 de outubro, prevê empréstimos entre R$ 5 mil e R$ 30 mil, com juros reduzidos e prazos de 24 a 60 meses.

Poderão solicitar o crédito famílias com renda bruta mensal de até R$ 9.600, divididas em duas faixas:

Faixa Melhoria 1: renda de até R$ 3.200, com juros de 1,17% ao mês;

Faixa Melhoria 2: renda entre R$ 3.200,01 e R$ 9.600, com juros de 1,95% ao mês.

Segundo o governo, o objetivo é melhorar as condições de moradia, combater a inadequação habitacional e permitir reformas voltadas a segurança, salubridade, acessibilidade e sustentabilidade.

O que esperar daqui para frente

A combinação de novo teto do SFH, regras atualizadas do FGTS e linha de crédito para reformas representa a maior mudança estrutural do crédito imobiliário brasileiro em quase duas décadas. As medidas ainda estão em fase de transição, mas devem aumentar o número de financiamentos, reduzir o custo de captação dos bancos e dar mais previsibilidade ao comprador.

Para o mercado imobiliário, o efeito esperado é uma reação gradual de vendas e lançamentos, à medida que as novas regras forem absorvidas pelo sistema financeiro.