
Sem acesso aos recursos da poupança ou do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para financiar obras, o setor de loteamentos busca alternativas para contornar as dificuldades dos juros elevados. Uma das opções tem sido a busca de parceria com construtoras.
As empresas loteadoras transformam áreas rurais em bairros por meio de loteamentos abertos ou fechados, sendo responsáveis pela divisão e urbanização do espaço. Segundo Caio Portugal, presidente da Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo), o setor tem andado “de lado” em 2025. Ao mesmo tempo, a incorporação imobiliária do segmento econômico, puxada pelo Minha Casa, Minha Vida (MCMV), cresce.
A grande diferença é que os loteadores financiam os próprios clientes, chegando a parcelar lotes em 420 meses (35 anos) para encaixar na renda do comprador.
“Não é nossa função ser banco”, diz Portugal, assumindo, por outro lado, que esta é a forma de viabilizar a venda, já que os bancos não podem direcionar recursos da poupança para compra de lotes. Nos últimos 12 meses até junho, foram lançados 123,2 mil lotes, queda de 4,1% sobre o período anterior, segundo levantamento da Aelo e consultoria Brain.
Certificados imobiliários como alternativa de funding
Uma alternativa para obter capital é emitir Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). Para Gustavo Favaron, CEO do GRI Institute, a opção, no entanto, é restrita. “O custo é alto e exige governança, que boa parte das loteadoras, sobretudo as regionais, ainda não têm”, afirma.
A Brasil Terrenos captou R$ 700 milhões em um CRI em setembro. Segundo Alexandre Pereira, vice-presidente da empresa, o objetivo é manter o caixa forte em 2026 e lastrear o crescimento esperado, quando planeja subir o volume anual de lançamentos de 10 mil para 15 mil lotes.
Parceria com construtoras abre acesso ao crédito tradicional
Outra alternativa possível para o segmento é se associar a empresas que fazem casas. Ao vender o lote com a residência, o cliente acessa o crédito imobiliário tradicional, inclusive via MCMV.
“Para nós, é um oceano azul de onde atuar”, afirma Daniel Gispert, presidente da SteelCorp. Parte da meta de produção para 2026, de 800 unidades mensais, já considera a demanda das loteadoras.
Outra empresa de olho neste filão é a Tecverde. “Vamos começar a nos aproximar de loteadores, entendemos que a tecnologia industrializada é capaz de oferecer uma solução para eles”, diz Ronaldo Passeri, CEO da companhia.
Portugal, que abraçou o modelo há dois anos, afirma que esta é a única forma de acessar “o crédito imobiliário mais barato para o consumidor final”. A solução tornou-se possível a partir de 2022, quando a Lei de Incorporação passou a incluir casas isoladas ou geminadas.
*Com informações de Valor Econômico