
A nova política habitacional federal deve amenizar as dificuldades enfrentadas pelo mercado imobiliário de médio padrão — que atende famílias com renda entre R$ 12 mil e R$ 20 mil mensais —, impactado com os juros altos, embora ainda resiliente. Por outro lado, especialistas ouvidos pelo InfoMoney alertam que o impacto das novas medidas será limitado.
O programa anunciado pelo governo amplia o teto dos financiamentos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões e retoma o financiamento de até 80% do valor do imóvel pela Caixa Econômica Federal.
O modelo, junto com a melhora da economia, deve impulsionar o crédito, segundo a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias).
Luiz França, presidente da associação, destaca o potencial da fixação do teto de juros em 12%. “Cada ponto percentual reduzido nos juros inclui mais 160 mil famílias”, afirma. Atualmente, as taxas médias estão em 13%.
Por outro lado, há quem acredite que este efeito será limitado, devido ao custo do crédito, já que o custo do crédito é o que diferencia a classe média das mais altas.
Classe média depende de longos financiamentos
Pedro Arsenian, gerente de Real Estate na SOLD Leilões, explica que “enquanto o público de alta renda costuma comprar à vista, a classe média alta depende fortemente do crédito imobiliário. “Mesmo um imóvel de R$ 800 mil a R$ 1,2 milhão exige financiamentos longos”, complementa.
Para Ygor Altero, head do setor imobiliário da XP, o impacto do novo modelo de crédito voltado à classe média “deve ser mais de preservação de recursos”.
“O segmento de média renda seguirá enfrentando desafios pela frente. A taxa de juros do financiamento imobiliário está mais alta e não há disponibilidade de funding suficiente. Essa iniciativa do governo é positiva, mas o impacto deve ser mais de preservação de recursos do que de transformação”, afirma Altero.
A expectativa dos analistas de mercado é que a Selic caia dos atuais 15% para 12,25% até 2026.
Dados do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis de São Paulo) mostram que as vendas sobre oferta (VSO) dos imóveis de R$ 700 mil a R$ 1,4 milhão caíram de 9,4% em agosto de 2024 para 7,4% em agosto de 2025.
Alto padrão mantém ritmo firme sem depender de financiamento
Enquanto o médio padrão enfrenta restrições, o mercado de alto padrão continua aquecido. “O mercado de luxo segue aquecido. Esse público tem um funcionamento particular. Não depende de financiamento”, afirma Claudio Carvalho, CEO da AW Realty.
A incorporadora lançou R$ 1 bilhão em Valor Geral de Vendas (VGV) em 2025 e planeja crescer 15% em 2026.
“Projetos exclusivos e bem localizados continuam vendendo, mesmo com juros altos. Esse comprador muitas vezes paga à vista e decide com base em desejo e localização, não em cálculo financeiro”, finaliza Altero, da XP.
*Com informações de InfoMoney