
O programa habitacional da Prefeitura do Rio de Janeiro para impulsionar novos habitantes no centro da cidade, Reviver Centro, avança principalmente com a venda de microapartamentos de até 30 metros quadrados. Incorporadoras afirmam que o perfil do comprador que busca pela região, quer investir mais do que morar. O objetivo é alugar os espaços para plataformas como Airbnb.
O programa, lançado via lei complementar em 2021, oferece incentivos fiscais para o mercado imobiliário criar habitações na região através da construção de edifícios ou transformação de uso deles. Urbanistas, no entanto, avaliam que o projeto pode criar uma “bolha de Airbnb” em vez de cumprir o plano de levar moradias ao centro.
Desde 2021, o Reviver emitiu 57 licenças – 46 para transformação de uso de edifícios e 11 para construção, somando 5.236 unidades residenciais. O metro quadrado é vendido, em média, por R$ 15 mil. Um estúdio de 35 m², por exemplo, custa R$ 525 mil, segundo empresários do setor.
Perfil dos compradores
“Muitas vezes, essas unidades são as que cabem no bolso de uma parte das pessoas”, explica Gustavo Guerrante, secretário de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento da prefeitura. Edifícios famosos como A Noite e Mesbla estão virando residenciais baseados em estúdios.
“Tivemos um balanço interessante: 60% eram investidores e 40% são futuros moradores”, conta Guilherme Mororó, diretor comercial do CTV (Centro de Tecnologia e Vendas), que lançou um prédio na rua do Acre . As unidades foram vendidas em duas horas no pré-lançamento.
Para Laisa Stroher, pesquisadora do Observatório das Metrópoles, o movimento “é uma contradição na medida em que você tem mobilização de recursos públicos para repovoar o centro, mas vê que o projeto está sendo usado para outra finalidade”.
Elcilio Britto, presidente da imobiliária Lopes Rio, discorda. Ele diz que os empreendimentos vendidos pela imobiliária começaram com 95% de investidores, mas num segundo momento, o percentual de quem comprava para morar subiu para 10%, e agora deve estar em 20%. “Em algum determinado ponto pode haver uma bolha, mas não agora”, argumenta.
Um dos edifícios públicos é o antigo prédio de 31 andares da Caixa Econômica, na avenida Almirante Barroso, em análise de licenciamento para virar um residencial com apartamentos de até três quartos, estilo diferente dos demais estúdios.
O secretário Guerrante usa os mesmo argumentos, afirmando que a oferta de estúdios no Rio ainda é insuficiente, afastando o risco de “bolha de Airbnb”.
*Com informações de Folha de S.Paulo