
Lideranças do mercado imobiliário e da construção civil emitiram alerta sobre a falta de preparo do setor para a Reforma Tributária sobre o consumo. Durante o evento Incorpora 2025, da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), executivos admitiram que as empresas ainda não perceberam a complexidade da adaptação às novas regras.
O tom de urgência dominou os debates no evento, de acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
Para Ely Wertheim, presidente executivo do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), “os empresários do setor imobiliário ainda não perceberam a dificuldade que será se adaptar às regras da reforma tributária”.
Wertheim orientou: “quem não procurou seu contador ainda, procure”.
Complexidade e impactos no setor
A reforma cria o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ao consolidar tributos como Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto sobre Serviços (ISS). As novas regras entram em vigor em 2027, mas a fase de testes começa em 2026.
Segundo Lucas Freitas, head de ofertas do segmento de construção da TOTVS, o cronograma de adequação já está atrasado. “Era para ontem. Além de aumento de custo, a gente pode ter uma visão de prejuízo muito grande a curto prazo já”, afirmou.
Freitas alerta, ainda, que as empresas de tecnologia, como a TOTVS, terão que adaptar sistemas para acomodar as novas informações. Se as empresas deixarem a adaptação para o final do ano, “isso pode virar um problema”, pois o mercado não terá mão de obra especializada suficiente.
A complexidade atinge toda a cadeia produtiva, afirma Giovana Brunetta, gestora tributária sênior da Grant Thornton. Ela alerta que “a negociação de preços precisa nascer na análise da cadeia de suprimentos”. Neste sentido, o setor precisará renegociar com fornecedores, incluindo aqueles do Simples Nacional.
Já o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), York Stefan, destaca um outro desafio: “se a nossa cadeia de construção não está preparada, imagine o empreiteiro de mão de obra?”.
Segundo o especialista, o pequeno empreiteiro, fundamental para o ciclo da construção, terá que optar por um regime tributário e pode se tornar menos atrativo para o mercado se não contribuir com a base de crédito da empresa. Será preciso “aculturar” esses fornecedores para evitar gargalos, afirmou.
Reforma pode trazer ganhos de produtividade
Apesar dos desafios, a reforma abre espaço para ganhos de produtividade. A desoneração de obras públicas e projetos habitacionais, como os do Minha Casa, Minha Vida, pode estimular a industrialização da construção civil e reduzir entraves ao uso de pré-moldados.
“Quem passar pela arrebentação, vai sair ganhando com a reforma tributária”, afirma Luiz França, presidente da Abrainc.
Por outro lado, França adverte que a transição será custosa, com sistemas paralelos operando até 2032 e elevação dos custos de gestão tributária no curto prazo.
*Com informações de Folha de S.Paulo