
O mercado imobiliário brasileiro movimentou R$ 68 bilhões no segundo trimestre de 2025, com 102.896 imóveis comercializados, segundo dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). A compra da casa própria ou a garantia de segurança patrimonial, no caso de investidores e locadores, está ligada à realização de sonhos.
Em um setor tão sensível e complexo, a ética profissional é não apenas desejável, mas essencial. E é justamente para garantir essa conduta ética que existe o Código de Ética Profissional do Corretor de Imóveis, estabelecido pelo CRECI (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), órgão que fiscaliza a atividade.
Apesar de muitas pessoas associarem o corretor de imóveis apenas à intermediação de compra, venda ou locação, sua atuação vai além. Ele é um profissional de confiança, responsável por lidar com valores altos, documentos legais, interesses pessoais e patrimônio familiar.
Por isso, suas atitudes precisam estar pautadas por transparência, responsabilidade, honestidade e respeito ao cliente. “Quanto maior a integridade do profissional, mais sólida é a valorização da categoria perante a sociedade”, comenta o presidente do Creci em São Paulo, José Augusto Viana Neto.
O que diz o Código de Ética do CRECI?
O Código de Ética do Corretor de Imóveis, instituído pela Resolução COFECI nº 326/92, determina princípios que devem nortear a atuação de todos os profissionais registrados nos CRECIs estaduais. Entre os principais deveres estão:
- Guardar sigilo profissional sobre informações recebidas em função da atividade;
- Agir com lealdade e boa-fé tanto com o cliente quanto com outros profissionais do setor;
- Zelar pela veracidade das informações prestadas em anúncios, contratos e negociações;
- Recusar propostas ou práticas que violem a lei ou os direitos de terceiros;
- Não prejudicar a reputação de colegas ou da categoria profissional.
A infração ao código pode gerar sanções que variam de advertência até a cassação do registro profissional. O CRECI também mantém um canal de denúncias no site do conselho, onde há um formulário em que é possível fazer a queixa de forma anônima, para que clientes ou outros profissionais possam relatar condutas antiéticas ou abusivas.
Ética na prática: boas condutas que fazem a diferença
Mais do que cumprir regras, a ética no mercado imobiliário se revela nas pequenas atitudes do dia a dia, como:
- Esclarecer todos os custos envolvidos na transação, sem “surpresas” posteriores;
- Evitar a supervalorização de imóveis para atrair comissões maiores;
- Respeitar o tempo e a decisão do cliente, sem pressão indevida;
- Apresentar com honestidade os defeitos e qualidades do imóvel;
- Manter discrição e sigilo em transações envolvendo figuras públicas ou empresas.
Segundo especialistas, a ética também se estende às relações com colegas de profissão. É antiético, por exemplo, “roubar” clientes de outro corretor, divulgar imóveis de terceiros sem autorização ou disputar comissões de forma desleal. Além de contrariar o código de ética, essas práticas prejudicam a imagem de toda a categoria.
Consequências da conduta antiética
As consequências de atitudes antiéticas não se limitam às sanções do CRECI. Na prática, um corretor que age de má-fé perde a confiança do mercado — o que, em um setor baseado em reputação e indicações, é praticamente uma sentença de morte profissional.
Clientes mal atendidos tendem a relatar suas experiências negativas em redes sociais e sites de avaliação, o que pode afastar futuros interessados. Além disso, práticas ilegais, como omissão de informações, podem resultar em ações judiciais por danos materiais e morais.
Como identificar um profissional ético?
Para os consumidores, a primeira dica é sempre verificar se o corretor está registrado no CRECI. Isso pode ser feito rapidamente no site do conselho do seu estado. Além disso, observar o comportamento do profissional durante a negociação ajuda a perceber sua postura ética. Um corretor ético:
- Apresenta informações claras e completas;
- Não pressiona o cliente a fechar negócio;
- Oferece suporte mesmo após a assinatura do contrato;
- Aceita discutir termos contratuais e busca resolver conflitos com diálogo;
- Não hesita em indicar outro profissional ou imóvel quando reconhece que não é a melhor opção para o cliente.
O papel das imobiliárias e empresas
Imobiliárias e plataformas de venda e aluguel também têm responsabilidade na promoção da ética no setor. Devem treinar suas equipes, estabelecer processos internos de compliance, e manter canais de atendimento eficientes para reclamações e sugestões dos clientes.
Empresas que valorizam a ética não apenas cumprem a lei, mas constroem credibilidade e relações comerciais mais duradouras.
Educação ética desde a formação
Por fim, é importante destacar que a ética deve estar presente desde a formação do corretor, sendo parte integrante dos cursos técnicos e avaliações para obtenção do CRECI. Eventos, palestras e treinamentos contínuos sobre boas práticas são fundamentais para atualizar os profissionais diante de um mercado cada vez mais digital e competitivo.
Principais Infrações Éticas no Mercado Imobiliário
- Anunciar imóvel sem autorização do proprietário – Divulgar imóveis que não foram formalmente autorizados fere a ética e pode causar disputas comerciais e insegurança para o cliente.
- Omitir informações relevantes sobre o imóvel ou contrato – Esconder defeitos estruturais, dívidas, pendências legais ou cláusulas importantes do contrato configura má-fé.
- Apropriar-se indevidamente de comissões ou clientes alheios – Disputar comissões com outros corretores sem acordo prévio ou “roubar” clientes de colegas são práticas antiéticas e passíveis de punição.
- Fazer avaliações irreais para atrair clientes ou inflar comissões – Supervalorizar imóveis ou prometer resultados fora da realidade do mercado prejudica a negociação e quebra a confiança do cliente.
- Coagir o cliente a fechar negócio – Pressionar compradores ou locatários com urgência artificial ou omitir riscos para acelerar a assinatura do contrato é prática abusiva.
- Difamar colegas de profissão ou empresas concorrentes – Atacar a reputação de outros profissionais para se promover vai contra o espírito de colaboração e respeito previstos no Código do CRECI.
Entrevista com o presidente do CRECI-SP, José Augusto Viana Neto
1. Quais são os princípios fundamentais que norteiam o Código de Ética do Corretor de Imóveis?
O Código de Ética do Corretor de Imóveis é fundamentado em princípios como a honestidade, a lealdade, a transparência, a diligência e o respeito ao cliente, ao colega de profissão e à sociedade. Esses valores asseguram que a intermediação imobiliária seja conduzida de forma justa e responsável, preservando tanto os interesses dos consumidores quanto a imagem do mercado.
A observância desses princípios é essencial porque a credibilidade da profissão depende da confiança que o público deposita nos corretores. Quanto maior a integridade do profissional, mais sólida é a valorização da categoria perante a sociedade.
2. Quais comportamentos ou atitudes mais frequentemente caracterizam violações ao Código de Ética?
Entre as infrações mais comuns, podemos destacar a falta de transparência na condução das negociações, a omissão de informações relevantes sobre o imóvel, a prática de concorrência desleal, o descumprimento de compromissos assumidos e a atuação sem a devida autorização do proprietário.
Além disso, atitudes que comprometam a dignidade da profissão, como a utilização de meios enganosos para atrair clientes, também configuram violações ao Código de Ética.
3. Quais penalidades estão previstas para corretores que infringem o Código de Ética?
O Código de Ética, regulamentado pelo Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI), prevê diferentes tipos de penalidades, que variam de acordo com a gravidade da infração. Elas podem ir desde advertência verbal e censura pública até multa, suspensão temporária do exercício profissional e, em casos extremos, o cancelamento da inscrição. Esse sistema disciplinar tem caráter não apenas punitivo, mas também educativo, buscando corrigir condutas e prevenir novas infrações.
4. Como o CRECI lida com novas demandas éticas trazidas pelo ambiente digital?
O ambiente digital trouxe grandes oportunidades, mas também desafios éticos relevantes. O CRECI tem acompanhado de perto essa realidade, orientando os profissionais quanto à postura adequada em redes sociais, sites e plataformas de divulgação.
A recomendação é sempre manter a transparência, respeitar os direitos dos clientes, evitar anúncios enganosos e coibir práticas que possam configurar concorrência desleal.
Além da fiscalização, o Conselho investe constantemente em campanhas educativas e treinamentos para preparar os corretores a atuarem com responsabilidade também no meio digital, assegurando que a ética profissional acompanhe a modernização do mercado imobiliário.