Ocupação de mais de 650 mil brasileiros, a profissão de corretor de imóveis passa por mudanças aceleradas nos últimos anos. As plataformas e anúncios digitais chegaram para ficar e agilizam o atendimento e as visitas. Mas se engana quem pensa que as novas tecnologias substituam o contato humano. Conhecer o cliente e o mercado em detalhes ainda fazem toda a diferença para os corretores que buscam vender ou alugar mais.
Neste texto você vai conferir dicas de profissionais de sucesso entrevistados pelo Portas para aumentar as suas vendas.
Experiência e humanização no atendimento
Com 14 anos de experiência em locação, a corretora Pauline Muradás Bilhan, 33 anos, atua na imobiliária Crédito Real, em São Cruz do Sul, a 150 km de Porto Alegre.
“Hoje eu trabalho muito mais no online, com atendimento, do que no presencial, e isso é muito bom porque tenho uma filha pequena”, conta.
Ela se inspira na experiência pessoal de quando teve de sair de casa para cursar faculdade. “Eu não tive esse atendimento humanizado e, naquela época, ainda tinha pouca coisa na internet. O que eu percebi é que muitos profissionais não se interessam em saber o motivo de você estar buscando um imóvel. Aqui nós fazemos uma consultoria”, diz.
O início de tudo, ela conta, é cativar o cliente. “Atendimento o cliente pode ter em qualquer lugar, mas poucos oferecem atendimento de excelência. Brinco que eu saio da conversa sabendo até a cor da calcinha, para assim conseguir atender aquela cliente”, brinca Pauline.
Para ela, é importante fazer um papo por telefone, se possível. “A gente ainda tem aqui o primeiro atendimento sempre por ligação, para se apresentar e contar para o cliente que o corretor existe e se interessa por ele, mesmo se o valor de aluguel for baixo”, afirma.
A tecnologia como aliada
Pauline destaca que a tecnologia é parte crucial do trabalho depois da primeira etapa. “Hoje o digital veio para ficar, a pessoa que não anda com o digital não consegue mais se atualizar. A nossa plataforma é toda com inteligência artificial. O cliente tira boleto, conversa com atendente por IA, até se encaminhar para um corretor”.
Valorização de todos os clientes
O corretor Ronnie Alvassete, 50 anos, viu na profissão uma possibilidade de crescimento e há 9 anos atua com locação. Ele trabalha para a imobiliária França, que atende as regiões de Jacareí e São José dos Campos, no interior de São Paulo, e já ganhou premiações pelo desempenho nas locações.
O segredo, ele conta, é valorizar todos os clientes e se mostrar disponível a qualquer instante. “Não é só uma questão financeira, é preciso ter empatia com o cliente mesmo quando não encontramos, de primeira, o imóvel que ele quer. Eu vou até as últimas circunstâncias para fazer o trabalho e todo cliente importa”, afirma.
Dicas do corretor de imóveis Ronnie para se destacar:
- Estudar o imóvel antes de visitar — “Sou muito sincero e não tento empurrar ou maquiar um imóvel”.
- Ajudar o cliente a ver pontos positivos — localização, transporte, escolas e outros fatores que impactam a experiência.
- Tratar todos com educação e respeito — “Já fechei locações só pelo bom tratamento. Isso nunca vai ser substituído”.
Especialização regional e preparo
As orientações de Ronnie valem não só para cidades pequenas e médias. Tales Moreira, 37 anos, atua na venda de imóveis em São Paulo, com foco no bairro Vila Mariana. “Os clientes elogiam quem não fica empurrando imóvel e faz uma apresentação completa. Eu não sou de fazer visita só por fazer”, diz.
Com foco em uma região, ele conhece detalhes sobre construções, áreas de lazer, ano de entrega, vagas de garagem e administração do condomínio. “Quando não é possível saber tudo, levo comigo uma ‘colinha’ com informações importantes para a visita”, afirma.
Há quatro anos na profissão, Moreira foi comissário de bordo por 15 anos em companhias aéreas e não troca a ocupação atual mesmo tendo conhecido muitos países por causa do trabalho anterior. Ele foi demitido durante a pandemia e procurou um curso de corretor. “No início, achei que seria um trabalho temporário e paralelo. Mas nunca voltei”, diz.
O corretor Ronnie Alvassete também reforça esse aspecto. “Eu tinha a imagem de que corretagem era um bico. Eu gosto de dizer que não estou corretor, eu sou corretor e isso faz diferença. Não estou aqui só pela oportunidade de ganhar dinheiro”, diz.
Atendimento digital versus presencial
Para os corretores consultados pelo Portas, não há oposição entre digital e presencial e, sim, complementaridade. Mesmo com níveis diferentes de adoção de tecnologias, todos trazem inovações para o dia a dia.
Moreira, que trabalha em São Paulo, tem a resposta na palma da mão quando o assunto do preço é trazido à tona. “Eu utilizo um aplicativo que dá acesso ao valor dos últimos imóveis vendidos naquele condomínio. Na própria visita eu já puxo pelo sistema e digo ‘não sou eu quem está falando, esse sistema tem dados da prefeitura e do cartório”, relata.
Para Ronnie, a tecnologia é importante sobretudo para tirar dúvidas. Ele não usa o WhatsApp Business, que permite respostas automáticas, mas garante que responde a todos as mensagens dos clientes a qualquer dia e horário.
Importância das fotos nos anúncios
Pauline, de Santa Cruz do Sul, ressalta a importância de bons anúncios nos sites das empresas. “A foto não pode estar torta e precisa de boa iluminação, ser tirada em dias de sol. Aqui na região Sul, isso ficou ainda mais importante depois das enchentes, que fizeram crescer os casos de umidade”, afirma.
Ela fez um curso de fotos de marketing para imóveis, o que fez toda a diferença ao trabalhar em conjunto com fotógrafos. Além disso, Pauline reforça que a constante atualização é necessária. “Estou iniciando agora um curso para ser avaliadora e aprimorar meus conhecimentos para tentar uma migração para a área de vendas”, diz.
Dicas para acertar na visita de imóvel
A visita de um imóvel, seja para compra ou locação, é um passo essencial para os corretores garantirem bons negócios. Veja abaixo dicas para agradar os clientes:
- Estude o imóvel com antecedência e faça uma visita sozinho
- Conheça e informe detalhes que podem fazer a diferença, como: posição do sol (se ilumina durante a manhã ou à tarde); curiosidades sobre a vizinhança (mais familiar, jovem ou formada por idosos); o gás é por botijão ou central?; normas do condomínio; e opções de lazer (playground, piscina, espaço para pets etc.)
- Ainda antes da visita, procure já preparar o cliente. Alguns corretores mandam por escrito ou por áudio detalhes do imóvel
- Chegue antes ao imóvel, abra as portas e janelas para arejar. É importante combinar a limpeza com o proprietário para manter a boa impressão
- Durante a visita: saiba dosar a interação. Tire dúvidas, mas deixe o cliente à vontade para explorar o imóvel
- Procure destacar as vantagens do entorno: localização, proximidade com serviços, acesso a transporte, segurança
- Lembre-se: fotos bem-feitas no anúncio são importantes, mas a sensação de estar na casa é diferente com a visita
Como saber se o preço do imóvel está correto?
Precificar corretamente um imóvel é uma tarefa que exige pesquisa e cuidado. Felizmente, hoje há muitas fontes de informação que ajudam a chegar no preço justo para o cliente e atrativo para o proprietário. Aqui no Portas é possível encontrar pesquisas e dados atuais sobre o preço de imóveis.
A corretora Pauline, de Santa Cruz do Sul, explica que é importante entender os interesses de todos os atores no processo. “Somos em três partes, o proprietário, a imobiliária e o inquilino. Para a imobiliária, às vezes pode não ser interessante baixar o valor do aluguel. Mas sempre estudamos se é possível dar uma carência ou três meses de desconto para o cliente, por exemplo”, afirma.
Do lado do proprietário, ela conta que, em algumas situações, é preciso explicar que mesmo uma reforma recente pode não agregar valor àquele imóvel. “Imagine a situação: avaliei o aluguel em R$ 2 mil, mas o proprietário acha que é R$ 2,5 mil. Não é um problema, desde que ele esteja ciente e aberto quando surgir uma proposta”, afirma.
Em relação aos inquilinos, Pauline diz que também sempre se mostra aberta para encontrar a melhor opção de moradia. “Às vezes ouvimos que o máximo que o cliente pode pagar é R$ 2 mil. Nesse caso, pode ser que não encontre tudo que ele quer, mas procuro o imóvel que mais se encaixa naquilo que ele busca. A locação é diferente da venda; na venda, é possível chegar mais perto do ideal”, afirma ela.
Ao mesmo tempo, a corretora alerta: nem toda proposta de possíveis inquilinos é levada para frente. “É preciso um bom senso, em algumas situações não tenho como oferecer o valor e menosprezar o bem do proprietário. Então eu pergunto: até onde você pode chegar?”, diz.