Imagem: Boy Wirat / iStock
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Antes de falarmos da “sopa de letrinhas” do momento, vamos começar pelo conceito que todos já conhecem: sustentabilidade. Por décadas, essa palavra foi usada de forma ampla, muitas vezes focada apenas no meio ambiente. O que mudou é que o mundo dos negócios precisou de uma forma mais organizada para medir toda a sustentabilidade de uma operação.

É aqui que entra a sigla ASG, ou, na sua versão original em inglês, ESG (Environmental, Social, and Governance). Ela representa um jeito estruturado de medir e melhorar o que uma empresa faz em três pilares: Ambiental, Social e Governança.

Se fôssemos explicar do jeito técnico, diríamos que o ASG é um conjunto de critérios e indicadores que permitem a uma organização mensurar, monitorar e prestar contas de suas práticas. Envolve a criação de metas claras, transparência na divulgação de dados e um compromisso formal com a melhoria contínua.

Se eu fosse explicar isso em uma roda de amigos, eu diria o seguinte: é simplesmente cuidar do impacto que você causa no mundo, das pessoas que você toca e de como você toma suas decisões — fazendo tudo isso à luz do dia.

ASG e o setor imobiliário: além das construtoras

No Brasil, quando se fala em ASG no setor “imobiliário”, a conversa é quase sempre direcionada à construção civil. Os temas dominantes são o canteiro de obras, a gestão de resíduos, a eficiência energética e os acidentes de trabalho. Isso faz sentido, pois é um setor com uma enorme pegada ambiental.

Mas não é sobre isso que este texto trata. Nosso foco é o mercado secundário. E aqui eu falo diretamente com você: dono de imobiliária, gestor, líder de equipe e corretor de imóveis que intermedia a venda, locação e administração de imóveis de terceiros.

Esse universo é gigante e, em grande parte, ainda pouco familiarizado com o ASG. Esse vazio não é um problema; é uma oportunidade clara de pioneirismo.

O tamanho da oportunidade

A dimensão do mercado ajuda a entender o tamanho da chance. O Sistema Cofeci-Creci cita cerca de 650 mil corretores e 74 mil imobiliárias registrados no país (e há estimativas mais altas; uso aqui a referência conservadora do próprio sistema).

A pergunta que surge é: “Mas o cliente liga para isso?” No mundo anglo-saxão, onde as associações são muito ativas, quase metade dos agentes relata um interesse crescente dos consumidores por sustentabilidade e eficiência nas casas.

O dado vem do relatório 2025 da NAR (National Association of REALTORS®). Isso se traduz em demanda por itens práticos como isolamento térmico, janelas eficientes e sistemas de aquecimento, gerando argumentos comerciais no dia a dia.

No Brasil, o Secovi-SP lançou um “Guia ESG – Melhores práticas para o setor imobiliário“, que oferece uma boa base de conceitos e diretrizes. É um passo importante, pois dá norte e material de referência.

Contudo, ainda é pouco para as necessidades específicas das imobiliárias de intermediação. Faltam modelos práticos voltados ao balcão: a visita, a captação, a qualificação do cliente, o anúncio, o contrato e o pós-venda. Vamos provocar esse debate.

Governança: o primeiro degrau do ASG nas imobiliárias

A Governança é o primeiro degrau (e onde muita imobiliária já deveria estar melhor). Estamos falando da LGPD aplicada à rotina, como em fichas de visita, CRMs, cópias de documentos e contratos digitais.

Falamos também de PLD/FT (prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo) com procedimentos básicos, treinamento e registros. Existem guias setoriais que ajudam a sair do zero, como o Guia LGPD do Secovi-SP, a cartilha da ABADI e o Guia de PLD do COFECI/CRECI.

Isso é ASG “na veia” para o nosso segmento, porque mexe diretamente com dados sensíveis, risco e confiança.

O movimento regulatório de fundo

Por fim, há um movimento regulatório de pano de fundo. O Brasil está caminhando para alinhar a divulgação de informações de sustentabilidade às normas ISSB (IFRS S1/S2).

Para companhias abertas, a CVM tratou da adoção voluntária em 2025 e o mercado discute a obrigatoriedade a partir de 2026. Mesmo que muitas imobiliárias não sejam S.A. listadas, o padrão tende a irradiar boas práticas por toda a cadeia, atingindo fornecedores, clientes corporativos e o acesso ao crédito. (fonte: Grant Thornton Brasil)

Resumo: ASG é linguagem de negócios

O resumo da ópera é este: ASG não é “coisa de construtora” nem privilégio de gigantes listadas. É uma linguagem de negócios que conversa com o cliente, com o jurídico e com a reputação.

No Brasil, já existe uma base, mas faltam modelos aplicados ao balcão. A pergunta não é se isso vai chegar ao mercado secundário, mas quem será o pioneiro em aplicá-lo.

É exatamente aí que entra a Parte 2 deste texto, um roteiro prático você vai poder ler na próxima terça-feira, aqui na minha coluna.