Plano Diretor de São Paulo
Imagem: Erich Sacco/iStock

As lojas vazias no térreo de edifícios residenciais em São Paulo mostram que o Plano Diretor da cidade ainda tem falhas, segundo empresas e especialistas do setor ouvidos pelo Estadão.

Embora o mercado imobiliário elogie o estímulo à criação de empreendimentos perto de eixos de transporte público e maior adensamento de áreas centrais, há críticas tanto quanto à formulação quanto à aplicação prática da lei.

A Prefeitura de São Paulo defende que o Plano Diretor Estratégico é “indiscutivelmente um planejamento urbano de longo prazo” — 2014 a 2029. “As diretrizes contidas nele seguem rigorosamente o Estatuto da Cidade e estão voltadas à sustentabilidade, integração social e adensamento de áreas com infraestrutura adequada”, argumentou em nota enviada ao jornal Estadão.

Fachadas ativas vazias geram distorções urbanas

Uma das principais críticas do setor é em relação às regras para fachadas ativas, como são chamadas as lojas no térreo dos prédios residenciais. Elas são feitas para aumentar o potencial construtivo dos empreendimentos. Para os críticos, a lei tentou uniformizar a cidade sem considerar a vocação comercial de cada bairro, provocando distorções.

Um dos pontos destacados neste sentido é o Código de Obras: com recuos obrigatórios pensados para veículos, conflita com a lógica de calçadas mais próximas e vivas.

Para especialistas, o resultado são fachadas ativas “de fachada”: espaços sem uso comercial real, ou localizados em áreas sem demanda. A Associação Comercial de São Paulo estima que 80% dessas lojas no térreo dos prédios residenciais na cidade estão vazias.

“Cada região, cada bairro e cada rua de um bairro tem uma vocação. Eventualmente, existem ruas super comerciais, que, ao virar a esquina, têm outra característica”, diz João Castro, diretor de desenvolvimento de projetos na incorporadora SKR.

Na visão do mercado, o Plano Diretor se limita a estabelecer regras de zoneamento, recuos e densidade sem partir de um desenho urbano previamente definido.

“Não é um problema da Secretaria de Habitação ou do mercado imobiliário. É um problema da sociedade. Precisamos saber onde queremos que a cidade se desenvolva e de que maneira”, afirma Bruno Sindona, fundador da holding Sindona.

A densidade populacional também é vista como baixa na cidade. Segundo Philip Yang, fundador do Urbem (Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole), a capital paulista tem menos de 100 habitantes por hectare. Em Paris, a densidade é de cerca de 200. Nas megacidades asiáticas, o número chega a 400.

Habitação social X preços dos terrenos

Outro ponto sensível está na habitação social. Embora o Plano Diretor tenha mecanismos para incentivar a construção de moradias populares em regiões centrais, o alto preço dos terrenos inviabiliza projetos enquadrados no Minha Casa, Minha Vida (MCMV).

“Se eu fizer a construção da mesma área do lado da estação Vila Olímpia ou do lado do metrô Tucuruvi, o custo da construção é o mesmo, porque a construção é commodity. Só que a área do terreno muda e o incentivo é o mesmo”, diz Castro, da SKR.

Sindona também afirma que falta interesse do mercado imobiliário em construir projetos de moradia popular em bairros nobres da cidade. “O empreendimento está sendo vendido a R$ 8 mil o metro quadrado, e fecha a conta. O que eu mais escuto é que a conta não fecha. É conversa fiada, porque se tivesse essa limitação de preço, automaticamente o terreno já seria precificado para baixo”, afirma.

*Com informações de Estadão

Marcela Guimaraes
Marcela Guimarães

editora/redatora

Jornalista colaboradora responsável pelo resumo do noticiário do dia. Tem 28 anos de experiência com atuação como repórter/editora (Estadão Broadcast, revistas piauí e GQ, rádio CBN e Portal Loft), além de atuar como editora-executiva/editora-chefe no SBT News e Curto News. Também foi apresentadora de TV (RIT), além de atuar como podcaster (Veja, Wired, Estadão Blue Studio)

Jornalista colaboradora responsável pelo resumo do noticiário do dia. Tem 28 anos de experiência com atuação como repórter/editora (Estadão Broadcast, revistas piauí e GQ, rádio CBN e Portal Loft), além de atuar como editora-executiva/editora-chefe no SBT News e Curto News. Também foi apresentadora de TV (RIT), além de atuar como podcaster (Veja, Wired, Estadão Blue Studio)