Imagem: ALotOfPeople/iStock
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Se a sustentabilidade é o “porque” e o ESG (em português ASG, sigla para “Ambiental, Social e Governança”) é a gramática, o que falta é um mapa de ações que caiba no bolso das imobiliárias –que é o que vamos mostrar neste texto.

Começamos pelo Ambiental, porque ele aparece nos olhos do cliente, mas lembro desde já: Governança sustenta tudo. Sem governança, o resto vira promessa.

Este artigo contou com a colaboração de Clara Barradas — especialista em sustentabilidade e ESG — que ajudou a aprofundar o tema e ampliar o olhar para políticas públicas, redes locais e financiamento verde.

Ambiental: operação enxuta, visitas inteligentes e curadoria que educa

Comece pelo que está na sua mão. Escritório com política de lixo zero, contratos e vistorias digitais, metas simples para energia e água. Troca de lâmpadas por LED, revisão de stand-by, compra consciente de insumos. Nas visitas, reduza deslocamentos com pré-tour por vídeo, agenda por zonas, caronas entre corretores e incentivo a rotas mais eficientes.

Na curadoria do imóvel, traga um checklist de eficiência para dentro do anúncio e da conversa: vedação de janelas e portas, ventilação, iluminação natural, aquecimento e etiquetagem de consumo (ex.: Selo Procel). Isso melhora a decisão do cliente e qualifica a negociação. Quando houver espaço, sugira cláusulas verdes no contrato de locação. É serviço, não marketing.

Social: segurança, respeito e cidade

O “S” mora na experiência. Segurança em visitas com protocolo claro, registro digital, verificação prévia e botão de alerta. Importante para todos, crucial para corretoras que costumam trabalhar sozinhas. Atendimento inclusivo e sem discriminação por gênero, orientação sexual, raça ou idade. Linguagem clara em anúncios e contratos, custos totais visíveis.

Conecte-se ao entorno. Parcerias com abrigos e projetos locais, clínicas mensais de “Primeiro Aluguel/Primeira Compra”, oficinas de educação financeira para locadores e inquilinos, apoio à reentrada de mulheres e jovens de periferias no mercado de trabalho. Cidades mais verdes e resilientes também passam pela mediação imobiliária: informação sobre arborização, permeabilidade, mobilidade ativa e equipamentos do bairro entram no seu repertório.

Governança: o alicerce que protege reputação e caixa

Trate LGPD como rotina. Mapeie quais dados coleta, por qual base legal, onde guarda e por quanto tempo. Padronize termos de consentimento, treine a equipe para incidentes e revise contratos e CRM.

Implemente PLD/FT sem drama. Procedimentos de identificação e diligência, registro de propostas e visitas, e a comunicação de não ocorrência quando cabível, seguindo as diretrizes do Sistema Cofeci-Creci e do COAF/SISCOAF. Some um Código de Conduta direto, política de conflitos de interesse e canal de ética.

Meça e publique. Defina responsáveis, indicadores e um relato de uma página no site com o que fez, o que mediu e o que vai melhorar. Essa disciplina conversa com padrões de divulgação que vêm ganhando força no país e, de quebra, organiza a casa para atender exigências de parceiros e financiadores.

Financiamento, redes e aprendizado contínuo

Quando for elegível, busque linhas de crédito e seguros que reconhecem boas práticas ambientais e de gestão. Entre em redes locais de sustentabilidade e inovação urbana para trocar modelos, capturar oportunidades e não reinventar a roda. Isso acelera a maturidade e dá vitrine.

Métricas de bolso para 90 dias

  • Equipe treinada em LGPD e segurança em campo (percentual e registro).
  • Visitas com protocolo aplicado (percentual).
  • Checklist de eficiência publicado nos anúncios da carteira (percentual).
  • Incidentes LGPD e reclamações do cliente resolvidas (número e tempo).
  • PLD/FT em dia, incluindo a comunicação de não ocorrência, quando aplicável.
  • Consumo por colaborador: papel, kWh, m³ de água (linha de base e meta trimestral).

Em 180 dias, some metas de redução de consumo e uma revisão independente das políticas. O objetivo é simples: sair do “nós nos importamos” para o “é assim que fazemos e é assim que melhoramos”.

Por que isso fecha conta

Receita melhora quando o anúncio explica eficiência e o corretor domina o assunto. Risco e custo caem com LGPD, PLD e protocolos de segurança bem feitos. Marca e talentos crescem porque novas gerações e parceiros corporativos já cobram critérios de sustentabilidade. Tudo isso sem esperar obra, apenas com gestão, método e constância.

Para guardar

Para guardar: pense no ASG como três lentes do mesmo óculos. Sem a de governança, a visão embaça. Sem a social, você não enxerga gente. Sem a ambiental, não enxerga futuro. O balcão muda quando essas três lentes entram na rotina. E é aí que a imobiliária deixa de “falar de ASG” e passa a viver ASG — todos os dias.