Imagem: Tinnakorn Jorruang/iStock
Imagem: Tinnakorn Jorruang/iStock

Houve um momento, num passado recente, em que o mercado imobiliário parecia ter descoberto a alquimia moderna: transformar tijolos em ouro através de aplicativos. A premissa de investir em imóveis para short stay seduziu milhares de brasileiros com a promessa de retornos superiores aos da locação tradicional.

E os números, de fato, eram sedutores. Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, a rentabilidade bruta de um imóvel bem localizado no Airbnb ou Booking superava — e ainda supera — a de um contrato anual.

Contudo, como ensina a velha máxima da economia (e da vida), não existe almoço grátis. Estamos agora atravessando uma fase de maturidade do setor: o momento em que o mercado começa a separar faturamento de lucro líquido, e investimento de trabalho.

A diversificação da demanda e a ilusão da renda passiva

O crescimento do setor não foi acidental. Ele surfou na onda de uma mudança comportamental profunda. Não viajamos mais apenas para ver o mar nas férias de janeiro. A demanda por hospedagem de curta temporada hoje é híbrida:

  • Turismo de Lazer: Continua forte, mas concentrado em alta temporada
  • Turismo de Negócios e Eventos: Retomou com força pós-pandemia, exigindo localização estratégica
  • Nômades Digitais: Aqueles profissionais que podem trabalhar de qualquer lugar, desde que o Wi-Fi seja rápido e a cadeira ergonômica

Essa diversificação fez com que comprar studios na planta — compactos, bem localizados e prontos para listar em plataformas — se tornasse a estratégia preferida do investidor pessoa física. O racional era simples: “compro, decoro, listo e vejo o dinheiro cair na conta”.

O problema é que essa lógica raramente incluía a variável mais cara da equação: o custo da sua própria hora de trabalho.

Quando a rentabilidade cobra seu preço

Gerir um imóvel de short stay não é ser um senhorio tradicional; é ser um hoteleiro de um quarto só. A rentabilidade extra cobra seu preço em forma de stress operacional. Diferente do inquilino que resolve (ou deveria resolver) a lâmpada queimada, o hóspede de temporada exige serviço de hotelaria.

Existe um abismo existencial entre olhar o extrato bancário e ter que responder a uma mensagem às 23h de sábado porque o hóspede não sabe ligar o chuveiro, trancou a chave dentro do apartamento ou manchou o sofá com vinho. A “liberdade financeira” prometida muitas vezes se torna uma prisão operacional.

A manutenção é constante e impiedosa. O turnover (rotatividade) alto acelera a depreciação do imóvel, exige coordenação logística de limpeza profissional, lavanderia industrial e gestão obsessiva de avaliações online — onde um único comentário negativo pode implodir sua taxa de ocupação futura.

A curva de aprendizado e a seleção natural

Estamos observando um processo de filtragem. O investidor que comprou na empolgação, sem calcular o custo operacional completo, tende a sair do mercado ou migrar de volta para a locação tradicional (long stay), aceitando ganhar menos em troca de paz de espírito.

Por outro lado, cresce o perfil do investidor profissional de short stay. Este compreendeu que, para ter sucesso sustentável, é preciso escala ou terceirização competente:

  • Operadoras Profissionais: O crescimento de empresas de gestão patrimonial (property management) que cuidam de tudo — da precificação dinâmica à troca de toalhas — por uma taxa que varia entre 15% e 25% da receita bruta.
  • Imóveis Preparados (NR): A busca por empreendimentos já nascidos com vocação Não-Residencial, que oferecem estrutura de services no condomínio, mitigando riscos jurídicos e facilitando a operação.

A pergunta que importa

Investir em imóveis para renda em curta temporada continua sendo um negócio atrativo, mas deixou de ser um “jogo fácil”. A tendência para os próximos anos é a consolidação de um mercado mais profissional, onde a margem de lucro será cada vez mais definida pela competência na gestão — não apenas pela localização ou decoração instagramável.

Se você pensa em entrar nesse mercado, a pergunta não é mais apenas “quanto vai render?”, mas sim “quanto trabalho você está disposto a ter?”. E talvez, mais importante ainda: “qual é o valor da sua hora livre?”.

Afinal, no mercado imobiliário, assim como na vida, a rentabilidade tende a ser proporcional à complexidade do problema que você se dispõe a resolver. A questão é saber se você quer resolver esse problema — ou apenas investir nele.