
O Brasil encerrou 2023 com falta de 5,98 milhões de moradias, equivalente a 7,6% do total de residências ocupadas, segundo a Fundação João Pinheiro (FJP). Isso significa que em cada 100 lares brasileiros, oito fazem parte do chamado ‘déficit habitacional’. Os dados – que são os mais recentes – representam queda de 3,8% em relação a 2022, mas revelam concentração regional preocupante.
O déficit habitacional predomina nas áreas metropolitanas e urbanas, principalmente no Sudeste (76,6%), Sul (68,5%) e Centro-Oeste (60,9%), onde a pressão do mercado imobiliário encarece o acesso à moradia, aponta o estudo.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) estima necessidade de R$ 2 trilhões em investimentos até 2033 para zerar essa falta de habitações no país.
Aluguel caro se torna principal vilão
O custo alto com aluguel tornou-se o principal componente do déficit em 2023, respondendo por 61,3% do índice geral, com 3,66 milhões de domicílios. “O componente do aluguel está em quase todas as regiões do Brasil chama muito a atenção, com peso maior sobre as capitais, como é o caso de São Paulo”, destaca Frederico Poley, coordenador de Habitação e Saneamento da FJP.
Há uma década, o principal componente era a coabitação. Desde 2022, porém, o maior peso está no custo do aluguel, considerado excessivo quando compromete 30% ou mais da renda mensal familiar. Cerca de 85% do ônus concentra-se em domicílios com renda de até dois salários mínimos.
O Sudeste concentra a maior parte do problema, com 2,31 milhões de domicílios em déficit, seguido pelo Nordeste (1,63 milhão). São Paulo sozinho representa 26,4% do déficit nacional.
Mudança no perfil exige novas políticas
Segundo Isadora Guerreiro, do Laboratório Direito à Cidade da Universidade de São Paulo (USP), a mudança reflete a concentração do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) nas políticas habitacionais. “A solução habitacional focada apenas na produção de novas unidades é um erro tremendo”, afirma.
A habitação precária respondeu por 20,8% do déficit (1,24 milhão), com maior peso no Norte (40,5%). A coabitação não desejada representou 17,9% (1 milhão de domicílios), também concentrada no Norte.
O Ministério das Cidades informou que está concluindo o programa de Melhorias Habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, oferecendo crédito acessível para reformas residenciais.
A região Norte registrou proporcionalmente a pior situação, com 11,9% dos domicílios em déficit habitacional.
*Com informações de Valor Econômico