
O sonho da casa própria está vencendo a competição com os juros altos no Brasil. Grandes empresas do setor imobiliário superaram os desafios dos juros elevados no segundo trimestre de 2025, registrando crescimento no faturamento e expansão das receitas. As construtoras listadas na B3 – a bolsa de valores brasileira – somaram R$ 15 bilhões em Valor Geral de Vendas (VGV) no período.
O destaque ficou para o segmento de alto padrão, onde as construtoras observaram aumento das margens brutas e progresso nas vendas. Já o segmento econômico é marcado pela estabilidade e recuperação.
“Construtoras como a Cyrela, Eztec, Direcional e Tenda tiveram um crescimento mais sólido”, exemplifica Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital. “A MRV está enfrentando dificuldades, principalmente no exterior, mas vemos a operação brasileira demonstrando recuperação”, complementa.
Cenário macroeconômico favorece setor
A taxa básica de juros está em 15% ao ano, com perspectiva de manter-se neste patamar até o fim do ano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) registrou deflação de 0,14% em agosto, primeira queda mensal desde julho de 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,26%, com taxa acumulada em 12 meses caindo para 4,95%.
Max Fuji, sócio da gestora de fundos REC Gestão, acredita no cenário promissor. “É um indício de que os juros podem cair antes do que estávamos projetando e pode beneficiar as grandes incorporadoras”.
O especialista aponta para o último Boletim Focus, que estima redução da inflação para 2025 e 2026. “O luxo é menos dependente do crédito, mas é um nicho menor. Quando você diminui os juros, aumenta o potencial deste mercado e o tamanho dessas empresas aumenta”, argumenta.
Empresas registram resultados recordes
A Cury lançou R$ 2,2 bilhões em VGV no trimestre, com receita líquida de R$ 1,3 bilhão e margem líquida de 19,8%. A construtora paulistana acumulou R$ 103,3 milhões em caixa pelo 25º trimestre consecutivo e possui carteira de terrenos avaliada em R$ 21,1 bilhões em VGV potencial, divididos por São Paulo (R$ 15,7 bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 5,4 bilhões).
“Vamos manter o ritmo forte de lançamentos, com foco em regiões estratégicas, combinando infraestrutura completa e proximidade com opções de mobilidade urbana”, afirma Fábio Cury, CEO da companhia.
Outro destaque do setor foi a Direcional, que registrou lucro recorde de R$ 183,7 milhões, um crescimento de 25,7% em relação a 2024, com receita líquida de R$ 1,1 bilhão.
O VGV dos lançamentos da Direcional foi de R$ 1,9 bilhão, sendo 44% oriundo da marca Riva, subsidiária focada em imóveis de médio padrão. A margem bruta ajustada foi de 41,7% – alta de 4 pontos percentuais – enquanto a margem líquida ficou estável em 17,2%.
A Cyrela encerrou com 17 empreendimentos lançados, totalizando R$ 4,1 bilhões em VGV, bem acima dos R$ 1,4 bilhão do mesmo período de 2024. As vendas líquidas chegaram a R$ 3,2 bilhões, 37% acima do valor registrado no segundo trimestre de 2024, com receita líquida de R$ 2,1 bilhões.
“A Cyrela consegue atuar em diferentes cenários de forma consistente no médio e longo prazo. Vemos isso na ampliação da marca aos segmentos de médio padrão e econômico”, observa Fuji, da REC Gestão. Já a Genial Investimentos chama atenção para o consumo de R$ 392 milhões do caixa da empresa no trimestre, o que reverte a geração de R$ 71 milhões do 1º trimestre de 2025. Já o estoque de terrenos, fechou o trimestre com R$ 20,2 bilhões em VGV.
A Eztec é outra companhia que está comemorando seus resultados: alcançou VGV de R$ 490 milhões no trimestre, fechando o semestre com R$ 1,1 bilhão – 20% mais que o melhor primeiro semestre da história da empresa, em 2022.
Com crescimento de 66% no Ebitda, a empresa registrou margem bruta trimestral de 40,7% e margem líquida de 31,1%, resultando em lucro de R$ 140 milhões. “A companhia tem concentrado seus esforços na expansão dos indicadores operacionais”, comenta Emílio Fugazza, CFO da Eztec.
A Tenda também tem muito o que comemorar: fechou com lucro líquido consolidado recorde de R$ 203,9 milhões, com lançamento de 9 empreendimentos totalizando R$ 1,08 bilhão em vendas. O preço médio das unidades foi de R$ 217,1 mil, queda de 3,7% em relação ao trimestre anterior.
Por outro lado, a Alea, sua subsidiária focada em projetos de casas pré-fabricadas, amargou prejuízo líquido de R$ 26 milhões, levando a empresa a focar apenas em Tupã, Bauru e Ribeirão Preto, cidades paulistas.
*Com informações de Estadão